
A morte é um mistério e sempre provocou perguntas e tentativas de respostas. Não é fácil compreender as perdas e a ausência de pessoas próximas e queridas. Ficamos impotentes, sem poder fazer simplesmente nada.
As Sagradas Escrituras iluminam a compreensão da morte. Como Jó, proclamamos a nossa inabalável esperança em Deus: "Eu sei que o meu redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó... Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos de outros" (Jó 19,25.27). Jesus nos ensina que a vontade do Pai é a nossa ressurreição: "Que toda pessoa que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia" (Jo 6,40). Numa louvável catequese, Paulo diz: "Irmãos, não queremos deixar-vos na ignorância quanto aos que adormeceram, para que não fiqueis tristes como os outros, que não têm esperança. Com efeito, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, cremos igualmente que Deus, por meio de Jesus, reunirá consigo os que adormeceram" (1 Ts 4,13-14). A nossa fé é a ressurreição, quando estaremos "sempre com o Senhor" (1 Ts 4,17).
A morte não interrompe a comunhão e a amizade daqueles que professam a fé em Jesus Cristo. Entre os peregrinos na terra e os falecidos continuam a haver vínculos de solidariedade fraterna. Os que "morreram na graça e na amizade de Deus, que estão totalmente purificados, vivem para sempre com Cristo" (CIgC, 1023), e podem interceder por nós. Os que morreram na graça, mas não totalmente purificados, que levaram consigo imperfeições que precisam ser purificadas para poderem entrar no céu, necessitam e contam com as nossas preces. A Igreja recomenda a oração de solidariedade em favor dos falecidos.
Pensar na morte nos leva a viver bem o momento presente, e a perceber que é o único que temos nas mãos, como dom de Deus. "Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas" (Lc 12,35). Pensar na morte nos educa a buscar a Deus acima de tudo, como nosso tesouro. Não será um estranho que nos julgará, mas um amigo que nos ama, que conhecemos pela fé, e veio para nos salvar. O juízo é o encontro com o Deus que é amor e misericórdia.
Comemoramos a nossa comunhão com os irmãos e irmãs falecidos através de nossa memória e lembrança, com os nossos sentimentos de suave dor e de saudade, com os nossos símbolos e a nossa oração. O melhor lugar para rezar pelos falecidos é na Santa Missa. A Eucaristia é o lugar do encontro: com Deus e com os irmãos e irmãs, vivos e mortos.
"Felicidade e todo bem hão de seguir-me, por toda a minha vida; e, na casa do Senhor, habitarei pelos tempos infinitos" (Sl 22,6).
Jesus Cristo, que nos redimiu por sua cruz, nos renove em seu amor e conceda aos que morreram a luz e a paz.
Dom Paulo Roberto Beloto
Bispo da Diocese de Franca
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